Não creio que exista desafio maior do que envolver-se no processo de formação de outrem. Seja no aspecto familiar, quando encetamos a educação de filhos, ou no campo profissional, quando auxiliamos na formação dos que vão atuar no mercado de trabalho. Hoje mais voltado ao mercantil do que ao laboral.


Cito isso, para contextualizar quão desafiadora foi a decisão de ingressar, no início dos anos 2000, em sala de aula para atuar como professor, auxiliando na formação de futuros jornalistas.


É sempre instigante falar para as novas gerações porque, além de obrigar-se a constituir conceitos e formulações, precisamos, pelo exemplo, apontar para os novos rumos que, imaginamos, assegurem a concretização de crenças num mundo melhor. Este, o desejo inalienável, de fácil aferição, que circunda coração e mente dos que já percorreram parte de sua existência e podem apresentar algum curso de vida.


É assim que identificamos um debate permanente entre o consolidado e o utópico campo de novas conquistas na forma como atuamos na função profissional de quem deve dar notícias.


Não aceitei nunca, nem acho que vou mudar de opinião tão cedo, a sofismática idéia de que, referenciando a famosa “teoria do espelho”, nosso noticiário explora a violência, a corrupção, a bandidagem de colarinho branco, porque assim é a vida. Ora, se temos esses fatos, que possam ser notícia. Mas, seguramente, não são os únicos, nem podemos acreditar que, sem eles, não teríamos como encher as páginas de jornal ou o tempo das TVs e emissoras de rádio.


O esdrúxulo e o grotesco, aliados ao violento, ocupam majoritariamente nosso noticiário como expressão plena de uma preguiça contumaz que acompanha alguns comportamentos. No “fast food” das notícias, quedamo-nos ao deglutir fácil das informações de apelo imediato aos sentimentos mais primitivos do ser humano.


Digo sempre em sala que a boa história, bem apurada, rica em informação, agregadora de valores, requer trabalho, não aparece de forma gratuita na mesa ou no teclado do jornalista. Não se iludam, essa facilidade não existe, insisto junto aos alunos. E vou mais além para um alerta que é indispensável aos novos. Aqueles que chegam às redações com uma carga extra de gás e empolgação, às vezes tomam uma ducha fria quando propõem algo distinto do que usualmente impera na forma de fazer notícia. Essa mudança de cultura é um aprendizado conjunto a ser compartilhado por novos e antigos. “Existe um mundo novo e quero lhe mostrar”, como diz o cancioneiro, e esse novo está na construção de um círculo virtuoso onde a boa notícia deixa de ser apenas a coadjuvante na composição do noticiário. Precisamos alertar, sempre, aos novos e futuros jornalistas, que as nossas atuais notícias constituem, muitas vezes, um elemento de combustão no processo de retroalimentação de outros noticiários, de outros veículos.


Como alguém deu, precisa acompanhar. E assim recicla-se o que foi notícia, que até possui vícios de concepção, pautados em erros de gênese. A formação dos futuros profissionais precisa ancorar-se numa nova percepção: a angulação da vida, não na sua negação. Temos, como desafio permanente, que identificar essa nuance simples mas vital nesse novo fazer jornalístico: a notícia da vida pode e deve ser mais importante do que a exploração de sua inexistência.

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