Quanto mais a tecnologia avança e a mídia alcança um maior número de pessoas, mais se torna relevante a necessidade de reflexão sobre o papel dos meios de comunicação na formação da personalidade e no desenvolvimento da criança e do adolescente. O crescimento dos meios – em volume de alternativas e de possibilidades de acesso – não corresponde, necessariamente, ao envolvimento dos meios na reflexão sobre o seu papel também formativo, indutor de comportamentos, tendências e hábitos.
O tema não é novo e já desperta há décadas estudos de cientistas sociais e teóricos da Comunicação. Desde o século XIX, com a industrialização, a massa humana formada pela população que sai de suas cidades para se concentrar nos grandes centros urbanos acaba gerando um ser humano destituído de sua individualidade, transformado em bem de consumo, até por não ter tempo livre para compor sua bagagem teórica.
O termo comunicação de massa surgiu naquela época, a partir da disseminação da tecnologia, e se traduz na industrialização da produção e disseminação de mensagens que atingem a massa da sociedade. Mensagens que podem informar, deformar, divertir, convencer, ampliar e reduzir mundos. As mensagens são aceitas e adotadas com mais facilidade pelo público que não reflete sobre elas. Quanto mais passivo o público, mais poder da mensagem.
A criança, indefesa, ainda se construindo por vivências e conhecimentos que vão sendo absorvidos, pode ser presa perfeita nessa sociedade de massa. Para que se possa prevenir e contornar isso, se fazem necessários elementos mediadores, como a família ou mesmo a comunidade contribuindo para a discussão em cima de valores e conteúdos, e a escola, estimulando a reflexão crítica e abordando os efeitos da mídia sobre a opinião das pessoas. Se a criança vai construindo seus valores, apoiado por essas mediações, cria referenciais e enfraquece o poder da pressão.
Dependendo do meio de comunicação, a linguagem utilizada pode ser mais ou menos persuasiva. E, embora a princípio se possa considerar que não existe palavra proferida de forma coletiva que não tenha o interesse de convencer e que isso pode acontecer tanto nos meios de comunicação como em religiões, por exemplo, é sem dúvida pela facilidade de acesso aos meios que estes se tornaram uma fonte de poder.
E o que acontece é que milhares de meninos e meninas se sentem fortemente atraídos por programas de TV, adequados ou não para a sua faixa etária. Têm nas revistas em quadrinhos um painel de influência que vai do título à desenhos que simulam morte e sangue. Acessam jornais de dezenas de páginas sem que nenhuma seja dirigida ao interesse deles. Ao mesmo tempo vêem repetidas vezes cenas de espetáculos dantescos de morte de outras crianças, assaltos e crimes que banalizam a violência. Passeiam pela internet, sem fronteiras nem limites, mesmo antes de saber escrever e sem saber “ler” o mundo.
A criança passa de espectador a notícia na mídia, na maioria das vezes, em datas especiais, em matérias de solidariedade ou, quando está na outra ponta da sociedade, aquela que por falta de oportunidades, segue por caminhos que levam a cometer violências. Estes, infelizmente, acabam por reproduzir a saga de mocinhos e bandidos, sem que percebam de que lado estão.
Sem uma leitura crítica dos meios de comunicação as crianças acabam a um passo do que é real e do que irreal, como se tudo fosse um jogo de vídeo game.