Os alvoroçados repórteres televisivos que, manhã da quinta-feira, 7 de abril, próximo à escola pública do Rio de Janeiro que acabara de ser atacada por um lunático armado, lançavam seus microfones à boca do primeiro ou da primeira que ali aparecesse com cara de desesperado ou desesperada, até deviam acreditar que praticavam jornalismo. Não o faziam, mesmo que os componentes técnicos de uma notícia até estivessem contemplados no que protagonizavam a cada entrada ao vivo, sempre sob uma excitação que o rigor jornalístico, em geral, não recomenda.

O que eles conseguiam extrair da trêmula boca de cada uma daquelas pessoas nada acrescentava ao esforço de passar ao telespectador o que acontecia de real na tragédia em desenvolvimento. O foco nunca poderia estar totalmente deslocado, da forma como apareceu, para aquelas pessoas, merecedoras de respeito numa hora de dor e dúvidas.

Testemunhei, ao meu lado, a reação de uma telespectadora que, diante de um destes tantos episódios, afastou-se da TV balançando a cabeça e, em tom de reprovação e revolta, quase gritou “…esses jornalistas!” Senti vergonha, por eles e por mim.

O evento jornalístico é grande, merece toda a atenção que recebe dos meios de comunicação e não pode ser medido pela quantidade de horas a ele dedicadas nas emissoras de TV e rádio ou no espaço que ocupa na mídia impressa e na Internet. O problema é, no geral, a qualidade do que está sendo passado. A guerra da audiência, um mal quando colocada acima de todas as coisas, relativizou o respeito que se via ter à dor das pessoas diretamente vitimadas pela loucura do jovem Wellington Menezes de Oliveira.

O novo mundo nos impõe um papel para o qual nem sempre nos demonstramos aptos. O começo de uma boa notícia nasce, por necessidade, numa apuração que consiga delimitar o respeito ao outro como passo inicial necessário. Especialmente quando “o outro” tem o perfil das fontes que ilustram essa triste história.

Artigo publicado originalmente no jornal O Povo, em 9 de abril de 2011, e reproduzido neste site com autorização do autor

Guálter George – Editor-Executivo de Conjuntura do O POVO – gualter@opovo.com.br

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