No setor saúde a importância do trabalho humano é fundamental e as possibilidades de automação são limitadas. O envelhecimento da população, o aumento da prevalência de doenças crônicas, a rápida incorporação de novas tecnologias na saúde e a instauração do Sistema Único de Saúde (SUS), a partir de 1988, impõem a necessidade de aprimoramento das práticas profissionais colaborativas em saúde no Brasil.
As Diretrizes Curriculares Nacionais estabelecem que os profissionais devem ser capazes de prestar atenção integral à saúde individual e coletiva, tomar decisões, comunicar-se satisfatoriamente, liderar equipes interprofissionais, administrar serviços e educar-se permanentemente. A competência para colaboração interprofissional é particularmente importante na atenção integral aos pacientes e suas famílias, principalmente no enfrentamento de problemas de saúde complexos.
Entretanto, diversos estudos têm demonstrado que tanto profissionais recém-formados como veteranos, frequentemente, não possuem este conjunto de competências.
Estas foram as razões que levaram o governo cearense a criar e manter a Escola de Saúde Pública, desde 1993, e o Governo Federal a criar, em 2004, a Politica Nacional de Educação Permanente em Saúde (Pneps). Esta política vem garantindo recursos e estimulando estados e municípios a desenvolverem programas de educação no e para o trabalho em saúde, abrangendo cursos de aperfeiçoamento, especialização, residência médica e multiprofissional, que criam espaços coletivos de aprendizagem e reflexão.
A Pneps possibilitou o reconhecimento e o estímulo às Comunidades de Práticas (CPs) no interior dos serviços de saúde. CPs são grupos de profissionais que se engajam mutuamente, assumem projetos comuns e compartilham repertórios de práticas. Pode-se dizer que as CPs são essenciais para o desenvolvimento profissional, a resolução de problemas e a criação de novas tecnologias no interior de empresas e instituições em geral. Elas se organizam naturalmente pelos trabalhadores, mas, no SUS, são principalmente facilitadas pela gestão das políticas de educação permanente dentro dos serviços.
O workshop sobre Comunidades de Práticas e Saúde, que ocorre na Escola de Saúde Pública do Ceará, em Fortaleza, até hoje, 18 de maio, será um espaço para aprofundar este debate com autoridades internacionais e nacionais, oportunizando profissionais, professores e estudantes da saúde e de outras áreas a compreendê-lo e aplicá-lo em sua prática diária.
Artigo publicado no jornal O Povo de 18 de maio de 20’2 e reproduzido neste site com autorização da autora
* Ivana Cristina Barreto é Superintendente da Escola de Saúde Pública do Ceará, professora da Faculdade de Medicina e do Programa de Pós-graduação da Universidade Federal do Ceará