Sempre que me deparo com uma reportagem policial ou sobre algum tema “negativo”, seja em qual mídia for, paro e penso em como aquela notícia poderia ser reformulada a partir de um referencial bom. O mesmo faço para a vida além do Jornalismo. Porque acho cada vez mais imperativa a necessidade de exercitarmos “o lado bom da vida”. A correria cotidiana enturva um pouco nossa visão pra isso.




Não se trata de idealizar um mundo impossível de mudanças tão radicais quanto emergenciais. É “só” da obrigação que temos de buscarmos o bom sempre. E a imprensa tem papel preponderante nisso, tanto na propagação de casos cruéis quanto das lições de solidariedade e amor.


Exemplos, para mim, ainda escassos nas televisões, rádios, jornais, revistas, blogs e sites especializados em notícias. Não que tragédias ou denúncias não devam ser feitas. Longe disso. O desvio do dinheiro público deve estar estampado, sim. A má conduta do deputado também. Mas bem que se poderia trabalhar mais a tão defendida (mas pouco praticada) “agenda positiva.”


Depois que ganhei o Prêmio Gandhi de Comunicação 2010 com a série “Consciência negra”, passei a pensar ainda mais sobre o assunto. Eu e a repórter Ivna Girão éramos do jornal O Estado, uma empresa pequena, mas cheia de garra. Conseguimos mostrar a força e as dificuldades de uma população a partir dela mesma. Vimos que é possível não sensacionalizar. Hoje, sou do grupo O POVO; ela, do Diário do Nordeste. E o Gandhi é um dos nossos maiores orgulhos.


Mas reflito. Considero o prêmio da maior importância. Ele lembra a gente dessa necessidade de enxergarmos cor onde tudo parece estar preto no branco. Consolidou-se como um concurso do bem. E distribui, ano após ano, sementes de como manter esse olhar. Transforma repórteres em agentes de solidariedade.


Só resisto a uma coisa. Tenho certa dificuldade para lidar com matérias produzidas especialmente para concorrerem a prêmios, independente da natureza dele. Ou delas. O bem precisa estar nas páginas de jornal não somente para ganhar estatuetas. Assim como a denúncia também não.


Ele deve ocupar espaços porque é necessário. Porque faz parte do (nosso) dia-a-dia, por mais escondido que esteja. Porque não só o rancor e a dor de cenas cruéis contagiam o leitor. A compaixão e o amor também.


E também é essa a lógica do Prêmio Gandhi: conscientizar as redações do quão imponentes elas são na formação do pensar coletivo no tocante ao ajudar o outro, a pensar a cidade como um lugar de todos (e não só meu, onde posso fazer o que bem entender), a exigirmos o que nos é de direito…


Torço para a edição deste ano bater o recorde de inscrições, crescentes a cada concurso. Mas torço mais ainda para cada matéria ter sido pensada, produzida, escrita e veiculada com a sinceridade do propósito de fomentarmos bons exemplos numa sociedade cada vez mais entregue ao negativismo e à violência.


Bruno de Castro, repórter de Cotidiano do jornal O POVO e vencedor do Prêmio Gandhi de Comunicação 2010.

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