Os mais lúcidos paradigmas da segurança pública defendem que a sociedade e as policias devem somar esforços e compartilhar responsabilidades na busca pela otimização do enfrentamento às causas e efeitos da violência, tendo em vista os múltiplos desafios impostos pela dinamicidade e complexidade de tal fenômeno. Contudo, há ainda os que insistem em simplificar essa questão meramente à dimensão repressiva, ignorando o nexo de causalidade que nos conecta à realidade social vigente.
Para os que defendem essa ideia, o fortalecimento das várias estruturas de repressão do Estado significa um caminho quase que absoluto, mesmo considerando a insustentabilidade da hipótese de onisciência, onipresença e onipotência da força policial. Felizmente, as experiências mais exitosas na redução da violência têm atestado a importância das abordagens mais abrangentes, pautadas na conjugação de pelo menos três verbos: o reprimir, o cuidar e o prevenir.
Assim, a importância da estrutura repressiva não é menosprezada, mas surge relativizada, constituindo apenas um elo de uma corrente mais ampla de intervenções, considerando que a construção da paz clama por transformações nos indivíduos, nos grupos, nas instituições e no próprio eixo cultural.
Nesse prisma, acredito que as dimensões da prevenção e do cuidado representam as sementes estratégicas que devem ser plantadas no coração e na mente das pessoas, para que o aperfeiçoamento da segurança pública se dê principalmente por meio da florescência de comportamentos e atitudes verdadeiramente condizentes com o cenário de paz que almejamos, fazendo com que a redução da violência não seja apenas o resultado de infinitas prisões e operações policiais, mas ocorra de maneira diretamente proporcional ao aumento dos valores estruturantes do amor, do altruísmo, da gratidão, da gentileza dos costumes e do perdão.
* Bernardo Antonio Aguiar Caetano é major da Polícia Militar do Ceará