No encontro da Fraternidade Jesus+Caritas deste ano de 2016 do Nordeste, nos dias 26 e 27 de julho, foi enfocado o centenário do martírio do bem-aventurado Charles de Foucauld. Lindolfo Euqueres, irmãozinho do Evangelho de João Pessoa, ajudou-nos a viajar pelo Deserto do Saara, fixando-nos em Tamanrasset, lugar abençoado e amado pelo Irmão Carlos de Foucauld. Lá ele passou os últimos onze anos de sua vida, derramando seu sangue na areia daquele abençoado deserto (1/12/1916). Também não nos esquecemos de visitar, pelo estudo do irmão Lindolfo, a cidade de El Golea, na Argélia. Lá se encontram os restos mortais do nosso amigo e pai espiritual.
Como seria maravilhoso se cada pessoa soubesse compreender o valor das virtudes cristãs, a partir da simplicidade, da entrega e do despojamento, abraçando, de todo o coração, numa profunda compreensão aos olhos da fé, o projeto do Deus-amor na sua beleza, preciosidade sublime e elevada, único e maior tesouro, a ponto de se distanciar da lógica do poder, da vaidade e da ganância! Tudo por causa do encontro com o absoluto de Deus, tendo como condição sine qua non a busca do último lugar, a conversão permanente, a Eucaristia como o eixo, a oração do abandono e o Evangelho da Cruz.
Numa sociedade contrária ao projeto de Deus, proclamado por Jesus de Nazaré, que tem como princípio subir na vida, somos chamados a escutar o clamor de Deus no mais íntimo da consciência. No mundo com o estigma da insensatez e da ausência de corações generosos e solidários, somos desafiados, à luz do Evangelho, de modo concreto, a mudar nosso estilo de vida. Na parábola do agricultor rico e insensato, fechado em si mesmo e voltado para a lógica do acúmulo, que o esvazia e desumaniza, de armazenar e crescer a segurança de seu bem-estar, Jesus deixa claro que tudo dele é loucura e tem por fim a frustração e fracasso total.
O belo texto Em busca do último lugar, do Padre Günter Lembradl, muito nos ajudou, no sentido de compreender o referido tema, a partir do seguinte paradoxo: “Descer só pode quem já tem uma vida cheia; cheia de amor e de misericórdia, como Jesus Cristo que, estando na forma de Deus, renunciou ao direito de ser tratado como Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo e tomou a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens. E sendo encontrado na figura de homem, rebaixou-se ainda mais, fazendo-se obediente até à morte, e morte de cruz (cf. Fil. 2, 5ss). O último lugar não é um lugar já definido e pronto que alguém pode escolher, mas é a opção de vida de alguém de abandonar-se nas mãos de Deus, deixar-se guiar por Ele. Ao último lugar se chega após uma longa caminhada de descer. Buscar o último lugar é para gente corajosa que não tem medo de enfrentar aventuras”.
Aprendamos com Charles de Foucauld, que, ao levar a Eucaristia para os irmãos no Deserto do Saara, ofereceu-lhes a mesma ternura e compaixão do Filho de Deus, com uma enorme vontade de ser amigo de todos, bons e maus, de amar a todos, indistintamente. Quis ser, de verdade, o irmão universal, assemelhando-se a Jesus de Nazaré em tudo, sobretudo na sua paixão e calvário. Amém!