Uma história conta que três amigos bombeiros pescavam de folga nas margens de um rio, quando foram surpreendidos pelos gritos de uma criança que vinha sendo levada pela correnteza rio abaixo. Instintivamente, os bombeiros mergulharam nas águas caudalosas e, tão logo conseguiram salvar a pequena vítima, já viram duas novas crianças que também se debatiam nas águas correntes. Outra vez os bombeiros salvaram as crianças, quando, espantados, perceberam mais três meninos pedindo socorro. Foi quando um dos bombeiros saiu d’água, correu em direção à parte alta do terreno e gritou para os amigos: continuem fazendo o possível para salvar essas vítimas que eu vou tentar descobrir quem está jogando as crianças no rio.
Escolhi essa história para lembrar que o sucesso de uma determinada missão pode exigir a integração de diferentes linhas de intervenção, contemplando o compartilhamento de responsabilidades. Trazendo essa reflexão para o campo da segurança pública, podemos inferir que os desafios impostos pela violência também evidenciam a necessidade de sermos flexíveis e inteligentes, fugindo de radicalismos que só contribuem para o dissenso institucional e reduzem o repertório de ações necessárias à construção de uma cultura de paz sustentável.
Sobre isso, refiro-me à necessidade de acolhermos, de uma vez por todas, os paradigmas da prevenção, do cuidado e da repressão como elementos indissociáveis de qualquer política institucional que se proponha a ser, verdadeiramente, de Segurança Pública Cidadã.
Nesse paralelo, acolher somente a repressão é como tentar salvar infinitas vítimas que caem no rio caudaloso da violência, sem nunca atentar para as causas dos afogamentos, sempre ignorando as margens que oprimem tal rio. Focar somente na prevenção é desprezar vítimas que já estão se afogando e que gritam por um socorro urgente. Destinar os esforços unicamente para o tratamento de vítimas sequeladas que já foram retiradas do rio é desviar recursos fundamentais para o sucesso de outros salvamentos.
Assim, percebe-se que o sucesso na Segurança Pública demanda um conjunto sistêmico e integrado de intervenções voltadas à prevenção, ao cuidado e à repressão, com a imprescindível participação de várias forças sociais.
Bernardo Antonio Aguiar Caetano – Ten Cel PM