O modelo capitalista no Brasil, numa marca mais acentuada em nossos tempos pela desigualdade social e estrutural, entrou em cheio na Amazônia e em todo o Brasil. Para a Amazônia, por opção de vida, seguindo os passos de Jesus de Nazaré, a inesquecível, terna e afável Irmã Dorothy, por 30 anos, abraçou a proposta do Evangelho, com grande paixão e amor pela Floresta Amazônica e seus habitantes. Uma mulher forte e determinada, no seu estilo de vida e com uma mística a causar medo e contrariar os que desejavam outro projeto para a floresta, que não fosse o projeto de Nosso Senhor Jesus Cristo, a ponto de tramarem, a exemplo do nosso Mestre e Senhor: vamos assassiná-la.
Irmã Dorothy era reconhecida como uma defensora do desenvolvimento sustentável, através da luta pela reforma agrária e da causa dos pequenos agricultores de Anapu, no Pará, mas acabou assassinada aos 73 anos (12/02/2005), a mando de um daqueles que só pensam nos bens temporais. A memória nos estimula como compromisso de fidelidade e persistência. Urge reconhecer o que se fez no passado para nos animar o presente. Além disso, a causa de Dorothy não está na moda, porque pouco se fala em reforma agrária. Por isso mesmo, precisamos de mais motivações, para que sua memória se mantenha cada vez mais viva.
“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (cf. Jo 15, 13). Dar a vida se pode traduzir por generosidade, renúncia, doação e testemunho. No amor a Deus e ao próximo está o eixo central do cristianismo; tudo a partir do coração, por ser o centro da personalidade, onde se encontra seu fundamento, na busca da dignidade, da justiça e da solidariedade.
Irmã Dorothy está viva e presente na vida do seu povo, com sua vida ofertada em sacrifício, em um verdadeiro hino de louvor a Deus, na sua coragem profética. Ela vai continuar sempre mais amada e admirada como figura exemplar e referencial, símbolo e patrimônio do povo brasileiro, no sonho de uma nova realidade, a partir do projeto de nosso Deus e Pai.
Diante do contexto, ainda muito vivo entre nós, da morte cruel e brutal da Irmã Dorothy, fica muito presente a frase de Tertuliano, dita no século terceiro: “Sangue de mártires é semente de cristãos”. Que tenhamos uma teimosia sempre maior em valorizar e jamais prescindir da profecia e do testemunho, e se for preciso, inclusive, do próprio martírio.
Temos consciência de que o testemunho profético e a mística, inestimável herança de Irmã Dorothy, fiel e corajosa discípula de Jesus de Nazaré, com seu sangue derramado na Floresta Amazônica, ainda irá produzir frutos, muitos e bons frutos. Animados pela chama da esperança pascal, digamos com o Papa Francisco: “O martírio dos cristãos não é algo do passado, mas muitos deles são vítimas também hoje de pessoas que odeiam Jesus Cristo” (06/02/2015). Amém!