É a partir do túmulo vazio que temos razões e esperança de viver neste mundo; de voltar nossas atenções para a realidade que vai muito além da nossa, que, aos olhos humanos, aparentemente, é triste, melancólica e dolorosa. Mas, para os que têm fé no mistério do sepulcro vazio, encontra-se a esperança do mundo. Coragem e perseverança são palavras de ordem indispensáveis para quem encontrou em Deus o sentido da vida. Podemos olhar Samuel, personagem do Livro Sagrado, que crescia sempre na presença de Deus (cf. 1 Sam, 3, 19). Que nossa súplica suba aos céus, conscientes da presença amorosa de Deus, a nos indicar o caminho da perseverança!
Ao visitar o túmulo de Dom Aloísio Cardeal Lorscheider, em Daltro Filho, município de Imigrante-RS, tive a intenção de contribuir, ao sorver no manancial de sua profecia e mística franciscana, vendo enaltecida sempre mais a memória daquele que foi contemplado por Deus largamente. Bondade, ternura, força e sabedoria jamais lhe faltaram, ao proclamar em alto e bom tom a grande novidade na Igreja, que, concomitantemente, chegava-lhe com sua missão de bispo e pastor, na Igreja nascente do Concílio Vaticano II (1962-1965), naquilo que a humanidade desejava ardorosamente: uma Igreja despojada, servidora, pobre e renovada.
Alhures comentamos que sua doce voz ecoou, diante da insensatez do mundo por ele vivido e em circunstâncias mais diversas: “Doçura e ternura em pessoa, alegria constante, posições corajosas e determinadas, ao mesmo tempo pregava e anunciava o Evangelho com coragem profética e grande sabedoria. Ele carregou sempre no seu grande coração as alegrias, as esperanças, as tristezas, as angústias e os sofrimentos de sua querida gente (cf. GS 200)”.
O Cardeal Lorscheider anunciou a esperança cristã, dentro da coerência evangélica, sendo um sinal vivo de Deus. Identificado com o Evangelho de Jesus, sonhava ver a criatura humana vivendo em melhores condições de vida e com mais dignidade, sobretudo aqueles que Deus colocou como ovelhas do seu rebanho. Também se travou, dentro da realidade dura da falta de liberdade vivida pelo povo brasileiro, sem jamais se cansar, uma árdua luta a favor da redemocratização, da liberdade de expressão e do fim da tortura em nosso querido Brasil.
Dom Aloísio, um filho de São Francisco, de um coração, naturalmente, grande e bom, pelos incontáveis gestos e gentilezas, configurou-se com Jesus de Nazaré. O poverello de Assis foi seu referencial, na mística de voltar-se aos empobrecidos, na luta por uma sociedade mais inclusiva. Desejoso de mergulhar nessa mesma mística, Deus conduziu-me como peregrino em visita a seu túmulo (06/02/2017) no convento da cidade de Daltro Filho. Que Deus seja louvado!