A vivência do batismo, para nós cristãos da Igreja Católica, faz-nos participantes do sacrifício pascal do Cristo Jesus. Também somos convencidos de que não devemos prescindir da condição de filhos de Deus e irmãos uns dos outros, no contentamento de pertença à grande família do Filho Amado do Pai. Guardemos, na mente e no coração, o tempo da “Quaresma” com sua força simbólica extraordinária, envolvidos pelo que existe de mais santo e sagrado, sempre a nos favorecer algo precioso na caminhada de povo de Deus. Expressa, na verdade, um tempo santo e abençoado (dias, noites e anos), em que Deus se revela e se manifesta em toda a sua plenitude, querendo uma única coisa dos cristãos: a vida de fé abraçada no batismo.


Tempo para uma consciência ainda maior da vivência da nossa fé, no gesto concreto da esmola, oração e jejum. Que seja um caminho com a marca da esperança e da salvação, dádiva do céu que nos é oferecida, agora e por toda a vida. A glória humana e os reinos da terra estão léguas e léguas distantes do projeto de Jesus. Para nos convencermos ainda mais, urge beber da água da fonte redentora: a Quaresma de 2017. Só no indizível mistério do Filho de Deus, que foi tentado pelo diabo no deserto, mas superou o mal e o egoísmo com todos os seus frutos, é que bebemos no poço inesgotável, o Livro Sagrado: “Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Jesus jejuou durante quarenta dias e quarenta noites e, depois disso, teve fome” (cf. Mt 4, 1-2).


Temos como desafio o espírito da Quaresma, na intimidade com Jesus de Nazaré, sem esquecer nosso olhar para o mundo contraditório no qual estamos inseridos, a perceber a presença misteriosa de Deus, com graças especiais, na vida e no mundo dos seres humanos. Deus nos convida a contemplar sua face terna e misericordiosa, ao mesmo tempo em que nos convida a entrarmos na lógica de, com o Filho, prosseguirmos nossa caminhada para Deus. Não podemos perder de vista sua entrega obediente ao Pai, no enorme desejo de vivenciá-la, e só mesmo com sua afável bondade é que podemos percorrer o caminho favorável, o kairós, ou o dia da salvação (cf. 2 Cor 6, 2).


No mundo em que vivemos, a lógica perversa do consumo e do bem-estar adormece os seres humanos, colocando-os diante da exigência de uma política econômica, na qual a dignidade dos filhos Deus se distancia sempre mais do sonho do Criador e Pai, comprovada na exclusão, iniquidade e morte de milhões de seres humanos. Que o espírito da Quaresma penetre no mais íntimo do nosso ser e nos faça enxergar o mundo, certos de que as tentações de Jesus resumem toda a luta da pessoa humana contra os poderes do demônio.


O Filho Amado do Pai, que andou de lugar em lugar, de aldeia em aldeia, fazendo o bem a todos no seu peregrinar, na mais absoluta certeza de que Deus, Nosso Senhor, neste tempo, quer de nós a graça da conversão do coração. De nossa parte, respondamos, não só com súplicas e louvores, mas, sobretudo, com um coração grande, aberto e solidário, livres de preconceitos, intransigências e intolerâncias. Assim seja!


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