Na rede privada, cerca de 84% dos partos são cesarianas, segundo dados do Ministério da Saúde. No Sistema Único de Saúde (SUS), esse percentual cai para 40%. No entanto, esse número está longe do considerado aceitável pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 15%. Atualmente quase 24 milhões de brasileiras tem cobertura de obstetrícia nos planos de saúde. Nesse contexto, muitas mulheres estão recorrendo a rede pública de saúde em busca de um procedimento não-cirúrgico. Também cresce o movimento de mulheres que reivindicam não apenas o parto normal, mas com assistência humanizada.
Esse é o caso de professora de matemática Camille Ramalho, 33 anos, que deu à luz no Hospital Maternidade Maria Amélia Buarque de Hollanda, no centro do Rio. “Fiz todas as consultas de pré-natal pelo plano de saúde, mas na hora do nascimento preferi o SUS”, contou. Ela disse que se informou sobre o assunto antes de tomar sua decisão. “Li muito, conversei com muitas mães e não me arrependo”.
Cesarianas
Diante do elevado número de cesarianas, o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) publicaram, no início de janeiro, uma resolução que estabelece normas para o estímulo ao parto normal. Dentre as novas regras está o acesso à informação dos percentuais de cirurgias cesarianas e de partos normais por estabelecimento de saúde e por médico obstetra. Um dos objetivos da resolução é reduzir o índice de cesarianas desnecessárias que acontecem na saúde suplementar. Segundo a ANS, 23,7 milhões de mulheres são beneficiárias dos planos de assistência médica com atendimento obstétrico no país.
De acordo com o Ministério da Saúde, a cesariana, quando não há indicação médica, aumenta em 120 vezes o risco de problemas respiratórios para o recém-nascido e triplica o risco de morte da mãe. Ao todo, cerca de 25% dos óbitos neonatais e 16% dos óbitos infantis no país estão relacionados à prematuridade.
“É inaceitável a ‘epidemia’ de cesarianas que vivemos hoje em nosso país. Não há outra condição, senão tratá-la como um grave problema de saúde pública”, avaliou o ministro daSaúde, Arthur Chioro. Segundo ele, há uma grave distorção no Brasil que precisa ser revertida e abordada de forma estrutural. “Não dá para continuar tratando como normal àquilo que não é normal, que é o parto cesariano”, afirmou.
Na análise do presidente do Comitê Estadual de Prevenção da Mortalidade Materno-Infantil e Fetal, Mariano Freitas, para reduzir o número de cesarianas é preciso uma mudança na cultura e no comportamento das pessoas. “A meu ver, o que poderia resolver, seria uma atualização dos custos/hora dos profissionais para a assistência ao parto normal, bem como a introdução de profissionais de enfermagem com formação específica em assistência obstétrica ao parto normal, devidamente assistida por um médico obstetra, para cuidar da grávida, bem como torná-las legalmente responsáveis pelo parto natural e, por fim, convencer as mulheres de todas as classes que o parto natural é o mais benéfico para ela e para o filho”, explicou Freitas.
O presidente do Comitê defendeu, ainda, a presença de um acompanhante da escolha e de confiança da mulher grávida. “E se for o marido, melhor ainda, pois o momento fortalece a unidade conjugal. Essa presença deveria ser obrigatória”, ponderou Mariano Freitas.
Retomada
Cada vez mais organizadas, mulheres que defendem o parto humanizado esclarecem futuras mamães sobre a hora de “dar a luz”. Segundo elas, o parto natural devolve a mulher o controle do corpo e à criança o direito de nascer no momento certo.
Conforme a coordenadora da pesquisa Nascer no Brasil, da Fiocruz, Maria do Carmo, entre as vantagens do parto normal estão a redução da morte materna, infecciosas, além de dores pós-operatórias. Nos bebês, diminui risco de morte intrauterina, complicações respiratórias e obesidade na infância.
Diferenças
Atenção para as diferenças entre parto normal e humanizado. Texto escrito por Mayra Calvette (enfermeira obstetra e neonatal).
“Apesar da Organização Mundial de Saúde ter recomendações para o parto normal saudável, a mulher e seu bebê estão sujeitos às rotinas da maternidade e dos profissionais, que podem variar de um lugar para o outro.
Algumas rotinas e intervenções comuns são lavagem intestinal, raspagem dos pêlos pubianos, retirar sua roupa, não ter liberdade de movimento, não poder ingerir comida ou bebida, soro para acelerar as contrações, não poder escolher a posição para ter seu bebê, analgesia, inúmeros exames vaginais, rompimento da bolsa, ter que ficar deitada com as pernas para cima, alguém falando para fazer força, alguém empurrando a barriga da mulher, corte no períneo (episiotomia), corte precoce do cordão umbilical, bebê separado da mãe para fazer os exames e tomar banho.
Muitas mulheres têm a imagem desse parto cercado de intervenções e traumatizante, tanto para elas quanto para os bebês. Muitas optam por cesariana por esse medo. Mas a verdade é que pode ser diferente. Pode ser a experiência mais poderosa na vida de uma mulher.
Elas não perderam a capacidade de parir, o corpo continua funcionando da mesma forma de sempre. E as necessidades básicas da mulher durante o parto continuam as mesmas: ela precisa sentir-se segura, ter privacidade e não sentir-se observada – (leia mais O Hormônio do amor).
O parto natural é o parto sem intervenções que respeita as necessidades básicas e a integridade da mulher. Além de ser mais eficiente e seguro, também carrega os hormônios do amor e êxtase que permitem a vivência da plenitude do parto.
No parto natural o trabalho de parto inicia quando o bebê está pronto para nascer. As ondas (contração) vêm no ritmo que tem que acontecer para cada mãe e bebê. A mulher instintivamente se movimenta, muda de posições, respira da forma que ela se sente mais confortável. Durante o parto, a mulher pode escolher como ela se sente mais confortável para ter seu bebê. Geralmente são posições verticais (cócoras, em pé) ou de quatro, na água. O bebê nasce e vem direto para seu colo. O corte no cordão umbilical é realizado depois que ele para de pulsar. O contato entre mãe e bebê é a coisa mais importante que existe nesse momento. Mãe e bebê precisam um do outro”.
Com informações da Agência Brasil e do site Guia do Bebê.