Foto: Ismael Soares

“O Mundo Quadridimensional” e “O Eclipse que Revelou o Universo” são alguns dos capítulos ou, melhor, das aventuras do livro Alice no País da Relatividade, escrito pelo professor cearense Geová Alencar, semifinalista do Prêmio Jabuti Acadêmico. A obra aprofunda conceitos da Física para estudantes do Ensino Médio.

Habituado com os números e fórmulas, Geová foi desafiado a mergulhar também no mundo das letras pelo Departamento de Física da Universidade Federal do Ceará (UFC), onde dá aulas e participa do projeto “A Universidade Indo à Escola”. A ideia era produzir um conteúdo mais denso para os estudantes interessados.

O livro, publicado pela Editora Livraria da Física, teve apoio do Governo do Estado, Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Sociedade Brasileira de Física.

O Prêmio Jabuti Acadêmico é a vertente da tradicional premiação de literatura brasileira voltada para a divulgação e celebração da produção científica, técnica e profissional, tendo a primeira edição em 2024. Ao todo, 9 obras concorrem na categoria Astronomia e Física. Os 5 finalistas serão anunciados na quinta-feira (18) e a cerimônia com o resultado final dos vencedores acontece no dia 6 de agosto. Mas aparecer entre os semifinalistas já foi uma surpresa para o professor Geová.

“Falei para uns amigos ‘eu não tinha nem expectativa’, porque o mais importante é o resultado que está tendo. Fiquei chocado, vi que tinham 2 mil livros concorrendo e eu fiquei surpreso disso acontecer”, descreve o autor.

O “resultado” mencionado pelo professor é a tiragem de 1.000 exemplares, distribuídos em escolas públicas da rede estadual de ensino, e a boa recepção entre professores e alunos. “Teve estudantes mandando e-mail e sempre que vou para atividades de pesquisa tenho tido um bom feedback”. O livro com 215 páginas apresenta personagens relevantes para os conceitos da Física, como Galileu Galilei e Albert Einstein, além de fatos históricos que compõem o avanço científico. Um deles, inclusive, aconteceu em Sobral, na Região Norte, onde um eclipse foi observado por pesquisadores ligados a Einstein.

Deu certo com Sávio Fonteles, de 18 anos, do 3º ano do Ensino Médio, encantado com os números e assuntos como Física Quântica e a Teoria da Relatividade. “O livro me ajudou a entender mais sobre o tema, apresentando conteúdos complexos e que precisam de matemática muito avançada, de forma simples”.

Após ler a obra por meio da indicação dos professores, Sávio entrou em contato com Geová para compartilhar o gosto pelo livro e aproveitar para tirar dúvidas. “Quero poder seguir carreira na Física e me tornar um pesquisador para poder estudar os diferentes fenômenos da natureza e mistérios da Astronomia, como matéria escura”, conclui.

Processo Criativo

Geová estava na rotina de atividades do projeto “Universidade Indo à Escola”, iniciativa da UFC, para formação da cultura científica nas escolas por meio de cursos que disseminam os avanços mais recentes em relação às pesquisas, quando surgiu a ideia do livro. Os cursos podem complementar os itinerários formativos dos estudantes do Ensino Médio.

“Os coordenadores sugeriram que eu escrevesse um livro para aprofundar o tema e eu aceitei o desafio. Como essa é a minha especialidade, pensei em escrever em 4 meses, em julho de 2021, mas acabou que não foi fácil como eu imaginava”, lembra.

Adaptar a linguagem para um público jovem exigiu muito mais tempo, cerca de 2 anos. “Quando escrevi, achei muito ‘seco’, só matemática… E aí surgiu a ideia de colocar personagem com a Alice e, a partir disso, coloquei uma trama que ao mesmo tempo fala de relatividade”. O professor reconhece em si uma “bateria social muito baixa” e a ansiedade, associadas ao Transtorno do Espectro Autista, que complica os momentos nos quais precisa dar palestras.

“Uma característica bem interessante é o hiperfoco: quando a gente se motiva com algo, focamos com extrema intensidade e foi o que aconteceu comigo na escrita desse livro”, compartilha. Essa característica nos leva a um spoiler, autorizado pelo autor: “A personagem principal, a Alice, eu construo como uma pessoa autista, apesar de não ser explícito”.

O professor-escritor analisa a possibilidade de fazer uma versão ampliada do Alice no País da Relatividade, mas não há expectativas para novos livros. Pelo menos, não no momento. “Para chegar nesse resultado, a minha produção científica caiu para menos da metade. Sacrifiquei isso com a boa vontade, mas deixei de ficar com a orientação de estudantes, por exemplo, para fazer algo bem feito”, pondera.

Por agora, aparecer entre os finalistas já é um “grande prêmio”, como avalia Geová. “As pessoas têm gostado bastante, meus colegas dizem que está incrível e que é um forte candidato a ganhar, inclusive da História. Eles estão mais confiantes do que eu”, conclui.

Prêmio Jabuti

O Prêmio Jabuti foi criado em 1958, idealizado pela Câmara Brasileira do Livro, sendo considerado como a maior distinção literária no Brasil. Realizado anualmente, a premiação reconhece o trabalho de autores, capistas, ilustradores, designers gráficos, tradutores, dentre outros.

O nome “Jabuti” foi escolhido em referência à tartaruga presente na obra de Monteiro Lobato, simbolizando a tenacidade e a capacidade de superação de obstáculos – uma representação à altura da riqueza e diversidade da cultura e literatura brasileira. O objetivo é reconhecer o valor das produções acadêmicas, científicas e profissionais que moldam e impulsionam o avanço do conhecimento no Brasil.

Fonte Diário do Nordeste

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