Recentemente, estreou na Netflix a série “Live to 100: Secrets of the Blue Zones”. O documentário apresenta, em quatro episódios, alguns dos possíveis segredos da longevidade. Idealizada pelo explorador e jornalista Dan Buettner, a série é baseada no best seller de sua autoria, The Blue Zones Secrets for Living Longer: Lessons From the Healthiest Places on Earth.
Trata-se de um guia sobre diferentes lugares do planeta onde foram localizadas grandes concentrações de pessoas com mais de 100 anos. Para se ter uma ideia, a expectativa de vida do brasileiro é hoje de 77 anos de idade, e de acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), se mantivermos o crescimento dos últimos anos, até 2050 estaremos vivendo, em média, mais de 80 anos.
Tanto o documentário como o livro abordam questões como lições aprendidas, alimentos consumidos e comportamentos destas populações. Para isso, Buettner percorreu cinco destas localidades buscando entender quais aspectos poderiam ser responsáveis por fazer destas populações mais saudáveis e mais longevas: Okinawa, no Japão; Sardenha, na Itália; Nicoya, na Costa Rica; Icária, na Grécia; e Loma Linda, na Califórnia.
Medicina preventiva
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, além de questões genéticas, os homens tendem a manter práticas que diminuem sua vida útil, como fumar mais e procurar atendimento médico com menos frequência.
Segundo o Dr. Daniel Lerario, clínico geral e endocrinologista, mestre e doutor pela Escola Paulista de Medicina, a realização rotineira de um check-up de saúde é um importante passo para prevenir doenças, viver mais e melhor.
“Um check-up é composto de exames clínicos e laboratoriais em diversos órgãos. Os exames serão indicados de acordo com o paciente, seu histórico familiar, condições clínicas, queixas e exames realizados anteriormente. Entre as doenças mais importantes que um check-up pode diagnosticar precocemente e até mesmo prevenir, estão doença coronariana, acidente vascular cerebral (AVC), diversos tipos de câncer e diabetes”.
Ter a oportunidade de identificar um problema de saúde antes mesmo de surgirem os primeiros sintomas é um privilégio. A grande maioria das doenças, em suas fases iniciais, são muito mais simples e fáceis de tratar.
Como viver mais e melhor?
No livro de Buettner, há alguns dados importantes que revelam a importância do equilíbrio entre ter à disposição recursos e medicamentos ou simplesmente adotar um estilo de vida mais saudável. Um exemplo é o fato de os americanos terem gasto em 2021 US$ 21 bilhões em suplementos proteicos, enquanto o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) declara que o americano médio ingere cerca de duas vezes mais proteína do que necessita.
A busca pela realização de atividade física regular também têm custado muito dinheiro aos americanos: cerca de 160 milhões de dólares por ano são gastos em academias e materiais esportivos e, ainda assim, apenas um quinto da população adulta realiza a quantidade mínima recomendada de atividade física.
Uma terceira questão importante abordada tanto no livro como no documentário poderá surpreender aqueles que apostam as suas fichas na genética relacionada à longevidade. De acordo com estudo da Escola de Saúde Pública da Universidade de Minnesota, os genes têm relativamente pouco impacto sobre a expectativa de vida.
“A longevidade está hoje relacionada, sobretudo, aos hábitos de vida, alimentação, prática de atividade física e oportunidade de detectar possíveis problemas o mais precocemente possível. Por este motivo, o check-up é indicado a todas as pessoas a partir dos 35 anos, ou conforme orientação médica. A periodicidade dos exames varia conforme a idade e o paciente, mas em geral acontece anualmente”, explica o Dr. Daniel Lerario.
Somente o médico que acompanha o paciente poderá determinar a partir de quando o check up deve ser realizado, quais exames serão realizados e com qual periodicidade. O histórico de saúde tanto do paciente como de seus familiares são importantes para determinar estas questões.
A vida nas “Blue Zones”
Dan Buettner encontrou alguns pontos em comum nos locais visitados. Em sua maioria, populações mantinham uma dieta baseada em vegetais e alimentos integrais. Em vez de irem para a academia, se movimentavam naturalmente, seja em caminhadas, subindo e descendo escadas, na agricultura, cuidando dos rebanhos e até mesmo dançando nas pequenas festas dos vilarejos. Rituais diários, oração, veneração aos ancestrais e cochilos, por outro lado, são alguns dos hábitos que os mantêm ao longo do dia, reduzindo a inflamação induzida pelo estresse.
“Trazendo este exemplo para as grandes cidades, é importante que a atividade física ofereça momentos de prazer a quem está praticando. Seja uma aula de dança ou longas caminhadas, gostar da escolha é fundamental para manter-se motivado em longo prazo e aumentar as chances de que a atividade física seja inserida na rotina de maneira permanente”, orienta o Dr. Daniel.
Entre os determinantes sociais da saúde, estas populações valorizam a manutenção dos idosos por perto, aumentando a esperança de vida de pais e avós, mas também dos netos. Pelo mesmo prisma, grupos que mantém programas de apoio social, relacionam-se em comunidades e buscam um senso de propósito a partir destas relações, têm obtido benefícios em longevidade.
Que lições podemos tirar das Blue Zones?
Não é possível, por exemplo, alterar a planta de uma cidade ou até mesmo a estrutura das casas, mas é possível, tanto aos governos, implementar políticas para melhorar a mobilidade a pé ou de bicicleta, como às pessoas procurar percorrer mais distâncias a pé e trocar elevadores por escadas.
Na alimentação, desde as escolas até as nossas casas, privilegiar alimentos saudáveis, reduzindo a proporção de ultraprocessados, bebidas açucaradas e fast food, buscando sempre incluir frutas, legumes, verduras, feijões, cereais integrais, sementes e nozes.
E o mais importante: quanto mais pessoas puderem buscar essas mudanças juntas, mais fácil e prazeroso será este caminho. Incluir a família, os amigos, vizinhos, colegas de trabalho em programas de incentivo a mudanças e promover eventos que incentivem essas ações, como workshops ou grupos de caminhadas, por exemplo.