Nilton Câmara é interprete de Libras, professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e escritor. Em seu livro “Grito Silenciado: Conceitualizações de Violência na Comunidade Surda”, ele aborda a violência contra os surdos e a luta por inclusão social
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por Márcia Rios
A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) não é mímica ou gesto. A Lei nº 10.436/2002, regulamentada pelo Decreto 5.626/2005, reconhece a Libras como língua. Não é uma língua oral, mas visual e espacial. Os sinais são apresentados num campo espaço-visual em que cada sinal é composto por expressão corporal, movimento, locação e configuração de mão.
Nilton Câmara é interprete de Libras, professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e escritor. Em dezembro passado ele publicou o seu primeiro livro: Grito Silenciado:Conceitualizações de Violência na Comunidade Surda”, que fala sobre a violência contra os surdos e a luta por inclusão social. Nilton conversou com a Agência da Boa Notícia (ABN) acerca da profissão de intérprete, do livro e da experiência como professor universitário. Acompanhe.
Entrevista
Agência da Boa Notícia (ABN) São dezoito anos de contato direto com as Libras, com uma carreira acadêmica voltada para o estudo, trabalho social e aperfeiçoamento da língua. O que o motivou a tamanha dedicação?
Nilton Câmara – Meu primeiro contato com a linguagem de sinais foi na igreja evangélica, no bairro Messejana em Fortaleza. Foi lá que eu aprendi os primeiros gestos e era lá que eu treinava. O universo me encantou e eu nunca mais deixei a língua de sinais. Naquela época (1998) não havia material de estudo como hoje, era mais difícil. Eu busquei qualificação, fiz cursos, viajei bastante e procuro ser um profissional envolvido na causa dos surdos.Gosto de repetir uma frase para me referir ao início: “Foi amor ao primeiro sinal”.
(ABN) Qual é o papel de um intérprete de Libras na inclusão de uma pessoa com deficiência?
NC – O intérprete é a ferramenta fundamental para unir os dois mundos. O mundo do som e o mundo do silêncio. Temos cerca de vinte oito mil surdos em Fortaleza e setenta e quatro mil em todo o Ceará. Toda essa população precisa de uma ajuda para que possam desenvolver plenamente suas capacidades. Incluir um surdo é dar a ele capacidade de caminhar, de desenvolver talentos, de conquistar profissões…
(ABN)“Grito Silenciado: Conceitualizações de Violência na Comunidade Surda”, qual a temática do livro?
NC – O livro é fruto da minha pesquisa de mestrado em Linguística Aplicada na Uece. Grito Silenciado fala sobre o processo de língua oral, no caso, a tradução da língua portuguesa para a língua de sinais destacando a temática da violência sobre a perspectiva do próprio surdo
(ABN) Como é ensinar Libras para alunos da graduação?
NC – Tem sido uma ótima experiência. Sou professor dos cursos de graduação da Uece. Hoje, a libras é a menina dos olhos. Turmas lotadas e um público bastante empolgado. Essa empolgação é fundamental. Procuro trabalhar logo nos primeiros encontros com os alunos um ideal de sensibilidade e humanidade. Gosto de explicar que uma disciplina de um semestre não irá te deixa hábil para trabalhar como intérprete, mas, poderá ser a porta de entrada, se houver um interesse maior. É preciso ter vivência. A prática e a busca por capacitação é o que vai te tornar um bom intérprete.
(ABN) Se você tivesse o poder de realizar um pedido em benefício de toda a comunidade surda do mundo, qual seria?
NC – Eu exterminaria o preconceito. Os surdos não precisam da imposição e obrigação da sociedade civil. Não os tenho como “deficientes”. Eles têm língua, cultura, identidade. Eu não pediria para os surdos deixarem de ser surdos. Surdos podem estudar, fazer faculdade, especialização… Eles são totalmente capazes. Precisam de inclusão. Aliás, nós precisamos ter como propósito primordial respeitar e promover a acessibilidade a pessoas com qualquer tipo de necessidade.
Serviço:
Livro – Grito Silenciado: Conceitualizações de Violência na Comunidade Surda
Autor: Niltom Câmara
Editora: Garimpo