A psicanálise acredita que nossa conduta e sentimentos são dirigidos por desejos involuntários. Para analisar os conteúdos inconscientes é preciso observar os instintos e anseios que fornecem a energia para as ações. A psicanalista Ana Cássia Fruett conversa sobre o assunto



Foto: Arquivo pessoal


A psicanálise acredita que nossa conduta e sentimentos são conduzidos por desejos involuntários. Para analisar os conteúdos inconscientes é preciso observar os instintos, anseios e impulsos humanos que fornecem a energia para as ações.


O Instituto Vincular é uma instituição cearense de atendimento, pesquisa e formação de psicoterapeutas de família com ênfase na psicanálise dos vínculos. Para debater sobre o tema, nos próximos dias 26 e 27 de maio acontecerá a I Jornada da Psicanálise: atualidades em psicanálise de casal e de família, promovida pelo Instituto Vincular.


A coordenadora do Instituto, Ana Cássia Fruett, psicóloga, psicanalista e membro da Associação Internacional de Casal e Família, conversou com a Agência da Boa Notícia (ABN) sobre como a prática da psicanálise pode contribuir com a condução das famílias, a educação de crianças e adolescentes e outros assuntos. Acompanhe

Entrevista
Agência da Boa NotÍcia (ABN) O que é a psicanálise?

Ana Cássia Fruett
– A psicanálise é uma ciência da subjetividade que compreende o sujeito psíquico nas dimensões do interno, do relacional e do histórico.A evocação do passado alicerçou desde sempre a teoria psicanalítica. No primeiro século da construção de Freud, a clínica individual remetia a um passado histórico próximo, vivido pelo consultante e estabelecido pelo mundo representacional interno, intrapsíquico. Neste segundo século, a teoria vincular amplia a perspectiva histórica interessando-se cada vez mais pelo que viveram os antepassados, em cuja transmissão encontra-se, não raro, o sentido para o padecimento dos sucessores.

(ABN) Como a psicanálise pode orientar na formação e condução das famílias?
A.C – O desenvolvimento de concepções teóricas que apontam para a genealogia, tem mais do nunca destacado,como escreve Derridá, a verdadeira vocação da psicanálise como psicanálise de família. “Essa própria mutação da psicanálise deveria aliás corresponder ao que ela tem  como sua missão primeira: ocupar-se acima de tudo do que, diretamente ou não, diz respeito ao modelo familiar e suas normas”. Até então nossa disciplina não se apropriou devidamente do contexto familiar, entre outras razões, porque enquanto a família existia no modelo tradicional como presença estável não havia tanta urgência em interrogar-se sobre ela. Os pais tinham autoridade, o pátio poder e numa posição hierárquica definiam uma ordem familiar. Quando encontra-se a ausência, nas mais diversas acepções da palavra, ausência real, ausência de lugares, ausência de modelos identificatórios, a busca das origens torna-se premente para preencher os vazios de representação.A família é o primeiro espaço de proteção e também de submetimento do homem. Representante das tradições, dos ideais e da história daquela linhagem a família é uma trama complexa e muitas vezes alienante.

(ABN) A psicanálise pode contribuir com a educação de crianças e adolescentes? Como?
A.C – Educar é um ato de amor. Implica em reconhecer o outro como singular, porém pertencendo a uma cultura na qual a transmissão da lei é fundante. Um dos dilemas da cultura contemporânea é o horror à falta. O pai perdido num tempo e espaço que evaporaram na liquidez contemporânea não tem mais palavra, nem espaço pra exercer o tradicional interdito. Não há mais leis, regras, moral e normas que impor. As leis são questionadas, seu modo de aplicá-las cada vez mais transitórios e relativos. Não há mais valores claros que sirvam de bússola para a intervenção paterna e as verdades se transformam sob o signo da descontinuidade. Conseqüentemente, o superego também sofre com a falta de regulação externa e se torna a cada dia mais frouxo, mais brando, mais permissivo. O que substitui a autoridade de outrora, que poderia punir ou premiar, passa a ser o destino, que responde pela ordem da incerteza.

(ABN)  E quanto a  terapia psicanalítica para casais, como surgiu? Em que casos ela poderá ser usada?
A.C – O casamento é uma das transações mais complexas da vida adulta. A escolha do cônjuge remete a motivações inconscientes, supõe uma afetividade chamada amor, (não menos complexa, dado que se ama o que se deseja e se deseja o que não se tem), tudo isso regulado por leis de consenso, pactos, contratos que comprometem cada um a sustentar o desejo, a fidelidade e uma infinidade de exigências que se organizam como provas de amor. A terapia de casal vem se tornando uma demanda crescente porque os conflitos são inevitáveis e tendem a se cronificar ou a levar a separação. A separação muitas vezes é um pretexto para não mudar.

(ABN) Sobre a I jornada da psicanálise do Instituto Vincular, qual o objetivo do evento e o público alvo?
A.C – O objetivo do evento é repensar a família como uma trama complexa pela sua representação na formação do psiquismo desde os três espaços privilegiados pela escuta da psicanálise vincular : o interno, intrapsíquico; o externo, intersubjetivo e o histórico cultural, o transgeracional. Estes se integram: não pensamos somente em sujeito do inconsciente, pois essa é uma das dimensões possíveis da subjetividade. A partir do social, supomos um sujeito social, sujeito da história: a partir do vincular, um sujeito do vínculo, sujeito da linhagem. É importante esclarecer que não se trata de diferentes sujeitos, mas de uma rede complexa, que exige ainda equacionar as pluralidades identificatórias, o respeito pela singularidade e todo um universo de novidades aportadas pela diversidade das neorealidades, neosexualidades e neopatologias.

Serviço:

I Jornada da Psicanálise Instituto Vincular

Data: 26 e 27 de maio de 2017

Público alvo: Estudantes e profissionais das áreas de saúde, educação, assistência social e direito

Informações:

3025 0353 (NAP)

9 8161 0222 (Ana Cassia)

9 9662 9636 (Daniel)

 

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