A violência em Fortaleza é naturalizada, afirmou Preto Zezé, presidente nacional da Central Única de Favelas (CUFA), durante o VII Simpósio de Ética do curso de Jornalismo, realizado na manhã desta terça-feira (15). O evento foi organizado por alunos da disciplina Ética, Cidadania e Jornalismo do curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza (Unifor). Para discutir o tema “Pelo Direito à Paz – Contextos e Coberturas da Violência Urbana”, foram convidados, além de Preto Zezé, Laércio Noronha, professor e Doutor em Direito, Emerson Rodrigues, Editor assistente da editoria Cidade do Diário do Nordeste e Ângela Marinho, diretora de Comunicação da Agência da Boa Notícia. Também estava presente a professora Janayde Gonçalves, do curso de Comunicação da Unifor.
Um estudo divulgado em 2018, feito pela Organização não governamental (ONG) do México “Seguridad, Justicia y Paz”, indicou Fortaleza como a segunda cidade mais violenta no Brasil e a sétima no mundo. A pesquisa utilizou as taxas de homicídio de 2017 de cada cidade, e a taxa da capital cearense foi de 83,48 para cada mil habitantes. Esse alto índice de criminalidade é constantemente lembrado pela mídia em diversos materiais jornalísticos.
Violência como pauta
De acordo com Laércio Noronha, na grade televisiva brasileira, 32 horas são dedicadas a transmitir programas esportivos e 28 horas são ocupadas com programação policial. “A violência é a nossa segunda paixão”, revela. Aponta a crise civilizatória atual como um grande empecilho para a diminuição da violência urbana. O professor afirma que a segurança pública está inserida em um círculo vicioso e que é necessário sair da mesmice, mas “investir não quer dizer resultados, principalmente quando falta metas”.
“Hoje em dia, notícia na periferia só tem peso quando morre muita gente. E depende do tipo de morte” (Emerson Rodrigues)
Quanto ao impacto das notícias, Noronha aponta que a repercussão das mortes da periferia não é a mesma que acontece com os homicídios ocorridos nas áreas nobres. Para Emerson Rodrigues, “hoje em dia, notícia na periferia só tem peso quando morre muita gente. E depende do tipo de morte”. O jornalista frisou em explicar o funcionamento da página de polícia do Diário do Nordeste que deve, além de informar os crimes, indicar onde esta violência está inserida.
Cultura da paz
Preto Zezé alega “ser correspondente de paz mesmo a notícia sendo de guerra”. O ativista cita a segregação que acontece em Fortaleza entre os bairros nobres e a periferia, e preza por uma cidade para todos. Para ele, é necessário entender o que está acontecendo na sociedade e se questionar “qual é o resultado prático?”. Como um primeiro passo para encontrar uma solução para a violência urbana, Preto Zezé sugere que “é preciso ter um mutirão para discutir que Fortaleza queremos”. De acordo com ele, a violência virou um mercado e é fundamental tentar transformar estigma em carisma em tempos como este.
Com uma necessidade de difundir a paz e propagar notícias boas, um grupo de amigos criou a Agência da Boa Notícia (ABN). Ângela Marinho é uma das fundadoras da ONG e vai na contramão das manchetes violentas. A jornalista apontou como a maioria dos programas policiais infringem o Código de Ética quando, por exemplo, revelam, sem permissão, a identidade de adolescentes em conflito com a lei. Segundo Marinho, a maioria destes programas não prezam pelos direitos humanos e costumam mostrar a violência de uma maneira grotesca e espetacularizada. E foi pensando em uma maneira diferente de fazer notícia que a ABN foi fundada.
Para o Jornalismo NIC, a jornalista destacou a importância destes simpósios para estudantes de jornalismo. “É uma forma de dividir o meu conhecimento com futuros jornalistas sobre o assunto e conscientizá-los da responsabilidade social da profissão”, acrescentou.
Com informações do Nic