Homem, negro, pobre e com baixa escolaridade. Essa continua sendo a identidade da grande maioria dos indivíduos que compõe a sistema carcerário no Brasil. O aumento desenfreado no número de presos já nos dá o título vergonhoso de terceiro país com maior população atrás das grades. Só perdemos para os Estados Unidos e China.
Pesquisa divulgada pelo Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias informa que o número de presos mais que triplicou no intervalo de dez anos (2006-2016). O Estado em pior situação? O Amazonas. A taxa de ocupação por lá é de mais de 400%. E a que se deve esse aumento descontrolado? O que as autoridades têm feito para amenizar a situação?
O tráfico de drogas e a atuação das facções dentro e fora dos presídios é o problema de difícil solução e é responsável por boa parte desse número absurdo de detentos.
Entra governador, saí governador, entra secretário, saí secretário…as tentativas de acertar são muitas, mas, ainda estamos longe de vencer essa guerra. A atuação cada vez maior e organizada das facções é responsável também pelo quadro preocupante do número de mulheres presas e pela desesperança nas famílias pobres, oriundas das periferias, que povoam o país.
E não é só isso. De acordo com matéria publicada no Diário do Nordeste, os desafios de driblar o tráfico atingem diretamente o Ceará (localização estratégica em relação aos países europeus). Os métodos de enfrentamento às facções não são efetivos. Foram mais de cinco mil assassinatos no ano passado, contabilizados pela Secretária de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Quem decide quem morre e quem fica vivo? Os criminosos que comandam as facções. A matéria ainda aponta que a maioria dos mortos são homens, têm entre 17 e 29 anos, moradores da periferia com baixa escolaridade.
“O surgimento dessas ações nos impressionou. Não havia criminoso com fuzil e granada aqui naquele tempo. Mas, mesmo as ações do passado parecendo grandiosas, nem se comparam com as de agora. As facções se organizaram como empresas altamente lucrativas e têm os presídios como seus escritórios. Aqui no Ceará, comandam rentáveis ‘negócios’ de tráfico de drogas, assassinatos e extorsões. Tem muito celular nas penitenciárias e isso dificulta demais o trabalho da Polícia”, afirmou o delegado Francisco Carlos de Araújo Crisóstomo, na matéria do Diário, que investiga ações criminosas no Ceará há 30 anos.
E nós, o que faremos? Além do sentimento de medo e desespero, a violência com que a GDE (Guardiões do Estado), tem agido dentro da capital é apavorante. Os mais desumanos e violentos atos de crueldade são praticados e divulgados quase como rotina.
Não podemos nos acostumar. Não podemos achar que jovens pobres nascidos na periferia estão fadados ao mundo do crime. O crime não pode compensar, nunca! Autoridades, polícia e sociedade civil precisam lutar e tentar reverter essa realidade tão absurda e terrível que deve ser tratada como primordial, prioritária, pois, já é tarde demais. As vidas que se perderam, não retornarão.
Márcia Rios – Jornalista
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