Peraí, as coisas estão acontecendo rápido demais e essa velocidade embaralha a cabeça das pessoas. Você saberia diferenciar um travesti, um transgênero, transexual, drag queen… muita gente não sabe e o pior, não respeita mesmo sem saber. A comunidade LGBT tem, mesmo passando por diários episódios de discriminação, procurado fazer que o mundo entenda que sexualidade não se trata de loucura, tampouco doença.
Na última sexta-feira (29), uma cena na novela semanal malhação (rede globo) exibiu beijos de pessoas do mesmo sexo pela primeira vez. Foram selinhos entre meninas e meninos. Para os mais velhos esse tipo de atitude em plena 18h traz um certo transtorno, desconforto. Duas senhoras conversavam ao meu lado no dia seguinte e afirmavam não se sentirem bem com determinados comportamentos da atual juventude (e citaram a cena). E eu pensei: nosso país deve viver a diversidade. Somos livres e não devemos nos obrigar a viver como manda o figurino e de acordo com os costumes da época do descobrimento (que não são tão bons assim). Mas, vamos procurar entender que para muitos de nós é difícil aceitar algo que esteja, digamos, fora do padrão.
Um selinho em uma novelinha teen é somente a ponta do iceberg quando nos referimos a atitudes absurdas e desumanas. Se formos contar o número de transexuais assassinados brutalmente no Ceará só este ano, não caberia mais nos dedos das mãos. Mais de dez seres humanos tiveram suas vidas findadas e tudo indica que todos foram vítimas de transfobia. E isso lá é motivo para tamanha crueldade! Esse é o problema, é aí que eu quero chegar. Você sabe como tratar a transfobia em um país como o Brasil? Nós sabemos o que é transfobia? Homofobia?
O jornal O Povo trouxe no último domingo uma reportagem especial sobre identidade de gênero. Conhecemos a Lara, 12 anos, que está em transição para o gênero feminino desde o último mês de agosto. Ela nos conta alguns detalhes de sua história, de alguém sem malícia, com sonhos e vontades típicas da idade. Está em busca da sua verdade, do seu lugar. Atitude corajosa para quem só tem 12 anos. Acredito que o que ela almeja é respeito, liberdade e quietude interior. O direito de ser.
Difícil né?! Primeiro porque nós ainda estamos tentando entender o tamanho das mudanças. Ainda não digerimos que as famílias tradicionais não deixaram de ser famílias e que todos precisam ser respeitados. Se você não consegue aceitar e ver a permuta de sexo como uma realidade crível e concebível, cabe o respeito ao outro. Mas, se você só consegue seguir bem e se mostrar tolerante quando acontece com o filho do vizinho, jamais com o seu, é preciso rever sua postura.
As mudanças, as grandes e significativas mudanças não são alcançadas do dia para noite. Elas levam tempo, luta e coragem. Não é a sua sexualidade que vai identificar quem você é por dentro. É preciso que essa nova realidade (apesar de muitos anos de luta) traga para todos nós os conceitos e as diferenças. A população precisa ser instruída não para aprovar ou desaprovar, todavia, para se ter convicção da opinião formada.
Eu até entendo o desconforto de algumas pessoas com o tema, é difícil assimilar tantas mudanças tão rapidamente. Mas, temos que avançar. Mudar heranças e tradições é trabalhoso, é preciso sensibilidade. Cada um tem o seu tempo. As gerações tem atitudes e comportamentos diferentes. Educar e lutar contra a transfobia é urgente. A falta de informação gera conceitos ilógicos e essa irracionalidade traz consequências que não nos permitirão uma segunda chance. Temos que pensar nisso. O processo de transformação tem que passar por todos nós.
Márcia Rios – Jornalista
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