Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) identificaram um possível protetor contra os sintomas da doença de Parkinson. Em camundongos, foi observado que a microglia, um conjunto de células imunológicas do sistema nervoso pode limitar a perda de neurônios e da capacidade motora.
Todos os testes foram conduzidos em animais que receberam uma toxina indutora de sintomas semelhantes aos da doença de Parkinson, aplicada diretamente no cérebro. No entanto, um grupo teve a microglia praticamente eliminada e outro grupo, não. O grupo que manteve essas células registrou perdas menos significativas de neurônios e de movimento quando comparado ao grupo em que elas foram eliminadas.
“Esses resultados sugerem um possível alvo para o tratamento da doença no futuro, quando descobrirmos mecanismos para ativar a microglia de maneira benéfica”, afirma a pesquisadora Carolina Parga, primeira autora da pesquisa, conduzida como sua tese de doutorado.
Relatada na revista Journal of Neuroimmunology, do grupo Science Direct, a descoberta contradiz o que os próprios pesquisadores do Instituto e outros estudiosos da área haviam visto anteriormente sobre essas células. Até então, acreditava-se o contrário, pois quando elas eram bloqueadas por fármacos, os sintomas do Parkinson eram mitigados.
“A hipótese mais provável para explicar essa diferença nos resultados é a atuação dos dois fenótipos [características produzidas pelo gene e pelo ambiente físico, químico e biológico] da microglia. Uma característica, a positiva, que protege contra a perda neuronal, talvez se manifeste no início da doença, e a outra característica, a negativa, que impulsiona essa perda neuronal, vai predominando à medida que a doença vai evoluindo – o mesmo pode ocorrer em outras doenças como o Alzheimer e algumas formas de epilepsia”, detalha Luiz Roberto Giorgetti de Britto, coordenador do estudo e professor do Departamento de Fisiologia e Biofísica do ICB-USP.
“Isso reforça a importância de desenvolvermos formas de diagnósticos mais assertivas para as doenças neurodegenerativas, para assim chegarmos a soluções terapêuticas. Pois trata-se de doenças que podem estar ativas, e sendo protegidas pela microglia e outros mecanismos durante décadas antes do diagnóstico, que em geral se dá só após a manifestação de sintomas”, complementa.
Parte da pesquisa foi conduzida na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, onde Carolina Parga realizou um intercâmbio durante seu doutorado, por meio do programa Bolsa Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPE), da FAPESP. Além da FAPESP, os pesquisadores do ICB-USP contaram com apoio do CNPq e da CAPES para a realização da pesquisa.
Mudanças genéticas – No estudo também foram identificados dois genes que podem estar relacionados à doença de Parkinson. Esses genes apresentavam menor expressão apenas nos grupos em que as microglias foram eliminadas. “São dois genes relacionados à transmissão por dopamina [substância que influencia nossas emoções, aprendizado e locomoção, além de outras funções] entre alguns grupos de neurônios do sistema nervoso, o que sugere que a microglia pode ser responsável pela modulação da expressão de genes que atuam nesses processos. Isso ajuda a explicar como a sua ausência resulta na perda de neurônios, o que causa a diminuição de dopamina, o fator responsável pelas alterações motoras”, aponta Parga.
Esse conhecimento é promissor principalmente para a pequena parcela de casos de Parkinson e Alzheimer que tem causas genéticas, um total de 5 a 7% dos diagnósticos. “Conhecendo melhor o comportamento desses genes talvez possamos, no futuro, antecipar o diagnóstico da doença, além de propor terapias que consistem na manipulação deles”, afirma Britto.
O Laboratório de Neurobiologia Celular agora se aprofunda nos resultados obtidos e nas hipóteses levantadas, e também estuda as possíveis implicações da microglia em modelos animais da doença de Alzheimer.
Fonte: | Agência Acadêmica Comunicação (USP)