Voltados à contemplação do mistério da encarnação, pensemos na eternidade, no mundo de Deus e com Deus, bem diferente, transfigurado e renovado. É importante que fique claro que não seremos outras criaturas, mas criaturas novas. A Igreja nasceu da fé na ressurreição, ressurreição essa entendida como esperança na verdadeira vida, e não num anestésico, que quer de nós somente isto: superar o absurdo da morte. No definitivo de Deus, a pessoa humana vê-se desvelada, quando se irrompe o absoluto de Deus na história da humanidade, salvando-a e deixando explícito que a salvação não depende apenas das realizações humanas.
É relevante nunca perder de vista que, com a morte, caem por terra todas as máscaras. Passou o tempo de as pessoas se esconderem, por mais que queiram usar de artifícios, fantasias e ficções. A esperança cristã transcende todas as esperanças terrenas, com seu ápice na vinda gloriosa de Cristo no fim dos tempos. Em Jesus de Nazaré a história encontra seu sentido último com a criatura humana reconciliada e pacificada no amor. É a revelação divina a nos assegurar que o reino de Deus está entre nós, que não é algo que se pode ver, mas que vai além do físico, penetrando nosso interior, devendo ser encontrado no próprio coração.
A liturgia do 2º Domingo do Advento nos fala do Dia do Senhor: o novo céu e a nova terra. Compreendamo-lo, evidentemente, como a vinda definitiva de Deus, como a revelação da presença de Deus sendo o Senhor da vida e da história. É bom que fique evidente que não é o fim da história, e sim o acabamento e a plenitude do homem e do mundo na história em Deus. A fé na ressurreição significa se convencer da manifestação inconfundível de Deus, ao estabelecer seu reino infinito, que, por seu Filho Jesus virá glorioso para julgar os vivos e os mortos. Só mesmo com os olhos da fé, tendo por eixo o Verbo Encarnado, é possível a compreensão da história no seu verdadeiro sentido. É a esperança que transforma a morte em vida, reconciliando os homens entre si na vida solidária de irmãos uns dos outros.
Que Deus nos dê a graça, sempre maior, de nos convencer da sua obra como dom e bênção, e de sermos pessoas inseridas nessa obra. É o projeto de amor do nosso bom Deus a encher de esperança o coração de homens e mulheres de boa vontade, neste tempo de esperança e de renovação, libertando-nos de todo mal, na busca da fidelidade a Deus. Amém!
Pároco de Santo Afonso e vice-presidente da Previdência Sacerdotal, integra a Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza – geovanesaraiva@gmail.com